o dia no seguinte como um mapa aberto
para o tempo. Não é disso que se morre:
de não haver explicação para o que sabe (ela).
A morte deve ser outra coisa que inventámos:
dar um nome ao que falta, salvar alguém de costas.
Ela volta o rosto (nas mãos dele) atira os olhos
ao chão para sentir a pedra, a larva no copo,
o cheiro da página no livro aberto a meio.
Sente o cheiro (dele?) nessa folha.
Pergunta onde estará no próximo capítulo como se escrever
o adiasse. Salta as páginas, tropeça num amor
que desconhece. Um, nómada do outro,
andam pelos dias colados à pele que despem
à tardinha. Um órgão, um sentimento, uma linha
em verso: tudo se confunde num só corpo.
Beija-lhe o pé (que agora é ela),
faz a cintura com as mãos, desfaz as pernas
com a exactidão dos dentes. Rangem as entranhas,
arrancada a carne pelos cabelos, e adormecem esventrados
nos sabores do verão. Mas não é a morte
que destece o corpo. A morte é o que inventámos
para não cuidarmos dela. Nómadas de tudo
(e mesmo deles) saltam com rãs sobre cerejas.
Parece dia no lençol caído, o dia a levantar-se
em desalinho com um beijo colado na dobra.
O risco da língua na pele (por dentro dela) é o risco
que correm os dias de se tornarem só belos.
Página ilegível. Tingida pela carne das cerejas.
Suada até à última letra, ao primeiro gemido
(que arde deles) na almofada da manhã seguinte.
Rosa Alice Branco
Muito erotismo adocicado pela música de meia noite.
ResponderEliminarBem apanhado, Sofia.